Astrônomos Amadores e Cientistas Cidadãos

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Publicado em novembro 14, 2019, 1:57 am
8 mins

Ter assistido a um documentário sobre astronomia não nos torna astrônomos amadores, assim como assistir a uma final de copa do mundo não nos torna jogadores de futebol.

Possuir um telescópio também não é o suficiente para nos definir como astrônomos amadores, tanto quanto possuir uma guitarra e ter assistido a um show do Eric Clapton não nos torna guitarristas.

Para ser jogador é preciso entrar em campo. E jogar. Para ser um guitarrista é preciso estudar. E tocar. Para ser um astrônomo amador, também é preciso ir além da condição de mero espectador. O astrônomo amador é aquele que conhece o céu e o OBSERVA.

Se você não é um médico profissional, não recomendamos que tente se tornar um neurocirurgião amador. Mas se esse era seu sonho de infância, e você estiver determinado a perseguir seu sonho, certamente o veremos se tornar célebre estampando manchetes policiais por exercício ilegal da profissão.

Mas temos um cenário muito diferente aguardando aqueles que gostariam de contribuir de forma não profissional com a ASTRONOMIA.

Astrônomos Amadores - Céu Profundo

Sessão de observação remota com o telescópio Argus. Um telescópio Schmidt-Cassegrain robótico de 11 polegadas disponibilizado para uso educacional através do programa Telescópios na Escola no Museu Interativo de Ciência, em São José dos Campos

 

Quando descobriu Urano, em 1871, utilizando um telescópio construído por ele mesmo, William Herschel era um astrônomo amador.

A contribuição dos amadores tem sido fundamental ao avanço da Astronomia e importantes descobertas são creditadas a observadores que tinham a Astronomia como hobby. O quão relevantes são as contribuições dos amadores? Que tal uma pequena lista?

Urano

William Herschel tornou-se um célebre astrônomo profissional, mas quando descobriu o planeta Urano, em 1781, trabalhava como músico e tinha a fabricação de telescópios e a observação astronômica como hobbies.

Telescópio Dobsoniano

John Dobson simplificou a estrutura dos telescópios refletores, desenvolvendo um telescópio de baixo custo e fácil manuseio. Além de desenvolver o telescópio que hoje conhecemos como dobsoniano, Dobson ensinava a construir telescópios e fundou em 1967 uma associação de astrônomos que levava telescópios às ruas de São Francisco (EUA) dando ao grande público a oportunidade de observar o céu através de instrumentos de grande porte.

Cometas

A observação constante e o conhecimento do céu, garantiu que um vasto número de cometas fosse descoberto por amadores. Cometas famosos com o Hale-Bopp, que foi visível a olho nu por 18 meses entre 1996 e 1997, e o cometa Shoemaker-Levy 9, que colidiu com Júpiter em 1994 são exemplos de descobertas realizadas por amadores.

Supernovas

Mais uma vez, o olhar atento dos amadores é valioso na descoberta de fênomenos celestes. As violentas explosões estelares conhecidas como supernovas são importantes para determinar parâmetros que ajudam a calibrar as distâncias extragalácticas. Com frequência, amadores detectam e reportam estas explosões. Um caso recente é o do amador argentino Vitor Buso, que em setembro de 2016 detectou o exato momento da explosão de uma supernova na galáxia NGC613. Seus dados ajudaram os profissionais a modelar a evolução da curva de luminosidade da supernova.

Astronomia Cidadã em São José dos Campos

Mas a contribuição dos amadores vai além das grandes descobertas. Ao contrário de nosso bem comportado Sol, há estrelas que variam intrinsecamente sua luminosidade. Há estrelas que variam de brilha devido a pulsações constantes que as fazem variar de tamanho. Há estrelas que variam de brilho devido a eclipses causados por uma estrela companheira em sua órbita. Além das variáveis explosivas como as novas e supernovas.

Monitorar a variação do brilho dessa vastidão de estrelas é uma tarefa que não pode prescindir da contribuição do exército de observadores amadores.

A AAVSO (American Association of Variable Stars Observers) compila os dados de fotometria de estrelas variáveis produzidos por amadores e os disponibiliza um vasto banco de dados.

Outro tipo de monitoramento realizado por amadores espalhados pelo mundo é a cronometragem de ocultações de estrelas pela Lua. Mais raros, mas ainda mais importantes, são as ocultações de estrelas por asteróides. Estas observações fornecem dados que podem, por exemplo, revelar a geometria ou a presença de aneis ou de satélites em torno de asteróides.

A IOTA (International Occultation Timing Association) é um grupo formado em 1983 para congregar os observadores de ocultações, fornecendo previsões de eventos de ocultação e compilando os dados registrados pelos observadores.

A observação de meteoros também é uma atividade que conta com voluntários amadores ao redor do globo monitorando as principais chuvas periódicas ou registrando imagens em estações domésticas de monitoramento. A rede EXOSS reúne estações de monitoramento amadoras e profissionais alimentando um banco de dados único no hemisfério Sul.

A rede IMO (International Meteor Organization) compila dados de observação visual de chuvas de meteoros. Seu banco de dados é fonte importante para a previsão da atividade das chuvas periódicas ao longo do ano.

Quer saber mais?

O Portal de divulgação de astronomia e ciências, Céu Profundo em parceria com a Rede de Comunicação do Jornalismo Colaborativo traz outras opções de atividades para Astrônomos Amadores em uma série de artigos. Mas em todas elas o importante papel do amador como cientista cidadão torna-se evidente. A ciência pode fazer muito pelo cidadão não-cientista, mas estes cidadãos também podem contribuir de maneira decisiva para o progresso da ciência.


Fonte: Céu Profundo, Astrônomos Amadores. Conteúdo certificado S.A.B. Sociedade Astronômica Brasileira