Por Roniel Sampaio Silva
Não é novidade que o emprego no serviço público seja um grande anseio de boa parte da população brasileira, sendo hoje é uma boa oportunidade de ingressar num emprego e obter a tão sonhada estabilidade.
Herança da organização estatal portuguesa, a burocracia brasileira tornou-se complexa e o serviço público se configurou como uma dos grandes empregadores no Brasil. Os concursos estão cada vez mais concorridos e mediante às incertezas do setor privado muitas pessoas têm buscado a carreira no serviço público.
Estaria este em vias de torna-se um grande nicho de pessoas competentes e pró-ativas?
No imaginário popular, o servidor público é tido como um “Barnabé” que joga paciência enquanto o público permanece desassistido. Em muitos casos sendo tidos como servidores incompetentes que sequer passaram num concurso público e estão ali como resultado de troca de favores políticos. Existe isso ainda, infelizmente. No entanto, nos últimos anos houve uma onda de concursos públicos o qual tem mudado cada vez mais o perfil destes trabalhadores: servidores cada vez mais jovens, escolarizado, e por isso, talvez, engajados. Mediante essa mudança de perfil por que o servidor público ainda é tido como incompetente e improdutivo para maioria das pessoas? Uma palavra ajuda a compreender melhor tudo isso: meritocracia.
Meritocracia é a faculdade de promover o servidor de forma proporcional ao seu esforço e competência. Quando pensamos em meritocracia não devemos analisá-la isoladamente, devemos fazer uma conexão entre macro e micro.
A burocracia brasileira, ao contrário do sentido weberiano, é altamente personalista e viciada por conta de uma construção social, política e histórica. O serviço público ainda é muito dependente de manobras político-partidárias as quais o direcionam não para eficiência e eficácia, mas para gerar frutos para determinado grupo político, normalmente oligárquico.
E como isso nos afeta, “Barnabés” consumidores de cafeína nas micro estruturas de poder?
É relativamente simples explicar: se a nível macro muitos incompetentes estão no poder, a nível micro isso também pode ser construído com pouco ou nenhum questionamento. Dessa maneira, produz-se uma estrutura complexa na qual cria-se uma cadeia de dependência que faz com que a grande maioria lute para manter tal estrutura. Talvez porque estes sujeitos tenham aprendido com essa estrutura viciada do serviço público que estabilidade é a mesma coisa que conservadorismo.
A constituição Brasileira mais recente tem pouco mais de 20 anos e portanto longe de está enraizada no habitus dos brasileiros em virtude da falta de meritocracia a qual alimenta a mediocridade. Tal mediocridade ganha forma pela dificuldade de democratizar o serviço público. Os servidores que não querem aderir ao “pacto de mediocridade” e tentam aprimorar o trabalho não tem seu papel reconhecido como liderança. Isso porque, na maioria das vezes, a liderança da gestão é uma indicação político partidária.
Em muitos casos, quem ousa romper com tal pacto acaba sendo vítima do boicote institucional e, não muito incomum, ser perseguidos pelos demais servidores que apoiam a manutenção dessa estrutura coronelística e oligárquica ou na expectativa de se beneficiar ou, ainda, pelo simples “direito” de se perpetuar com um esforço mínimo, chancelando a máxima de estão ali para ser servidos e não para servir.
A impressão que tenho é que muitas instituições públicas nunca saíram da caverna de Platão. Haja “paciência” para sobreviver a essa fábrica de mediocridade. O que falta para o Brasil acabar com isso?