A valorização da aparência, do sucesso e do estilo de vida saudável é inegável na sociedade. Basta observarmos o crescimento do mercado fitness e a quantidade de posts em redes sociais com esse tipo de conteúdo. Comumente vemos pessoas ostentando treinamentos na academia, mostrando seus ganhos com treinamentos e suas mudanças alimentares. A ostentação deixou de ser o rodízio na churrascaria e passou a ser uma marmita verde. Superficialmente é uma mudança importante em termos de evolução. Pensar que as pessoas estão mais preocupadas com sua saúde é algo animador.
Em uma década vi o número de competidores amadores aumentarem consideravelmente. Essas pessoas que optaram por um seu estilo de vida saudável não tiveram tempo para perceber que o novo estilo de vida requer menos. Menos trabalho, menos estresse, menos desejos, menos consumo e menos competição.
E pelo aumento no número de competidores nas provas amadoras, pela quantidade de eventos, olimpíadas e investimentos na área, teremos uma crescente. O ego aumentado a cada medalha pendurada na cabeceira da cama ou os likes das fotos do “no pain no gain” são as armadilhas da indústria do esporte.
Partindo do pensamento que precisamos de um ambiente saudável para termos saúde, vejo que o esporte muitas vezes contribui para o consumo dos bens naturais e acelera a degradação do meio ambiente. Por esse motivo começo a questionar sobre a necessidade da existência de alguns esportes.
A abertura das Olimpíadas Rio 2016 foi praticamente um chamado para atenção com o meio ambiente. Os atletas plantaram sementes para serem plantadas e deixadas como um legado. Será esse legado suficiente para justificar todo o impacto ambiental para a organização do evento? Seriam 11 mil mudas de árvores capazes de compensar o desmatamento e a terra retirada de uma área de proteção permanente para o aterro do parque olímpico? Quanto se gasta do planeta para manter um esporte como a Formula 1? Ouvi no Jornal Nacional (01/08/2016) que o inglês Louis Hamilton, líder dos pilotos está preocupado, pois já usou os cinco motores permitidos nessa temporada. Para quê? Sei que algum apaixonado pela modalidade vai dizer dos avanços tecnológicos que os carros de corrida trouxeram para os que usamos nas ruas. Mas então porque eles ainda usam combustível fóssil? Isso, sem falar da quantidade de pneus usados na competição. Ou ainda, quanto é gasto com o deslocamento das equipes de um país para o outro. E a Formula Truk? Corrida de caminhões…
Você vê algum sentido nisso? Campeonato de Surf? Vão mil pessoas para uma ilha no Taiti, um dos poucos lugares que o homem não destruiu, e lá ficam um mês com seus barcos e jet-skis para cima e para baixo só para descobrir quem faz mais pirueta naquele tipo de onda. Sei que você deve achar que eu estou exagerando mas me responda: Quantas vezes você viu sache de energético usado jogado na trilha? E aquele copinho de água que você tomou na prova. Onde você jogou? Será que recolheram? O que você fez com o numeral do peito da última corrida? Aquele que se usa em uma camiseta bonita com os patrocinadores? E os alfinetes? Tem usado?
Acho que agora consegui situar o leitor na engrenagem do consumo esportivo. Será que precisamos disso? Se o seu objetivo é saúde, certamente não!
Você não precisa viajar a cada fim de semana para competir em uma cidade diferente para ficar saudável. Não precisa trocar seu material esportivo que é de alumínio pelo de carbono porque é cem gramas mais leve. Você não precisa consumir aquele suplemento para baixar o seu tempo ou ter melhores resultados.
Afinal, precisamos consumir nosso meio ambiente para termos saúde? Não! Não há saúde na natação feita no mar impróprio para banho ou no treino de bike pela cidade com ar poluído.
Nossas escolhas vão impactar de alguma forma no planeta que vivemos. Não há diferença entre sua saúde e a do planeta. Da próxima vez que for se inscrever em uma prova, dar audiência a algum esporte, comprar um equipamento esportivo ou mudar de modalidade, pense nisso.
Fonte: Jornalismo Colaborativo / Impacto Zen