Foto – Cande Blanco – México
O autor é Roberto Ravagnani, palestrante, jornalista (MTB 0084753/SP), radialista (DRT 22.201), conteudista e Consultor de voluntariado e responsabilidade social empresarial. Voluntário como palhaço hospitalar há 18 anos, fundador da ONG Canto Cidadão, consultor associado para o voluntariado da GIA Consultores para América Latina, sócio da empresa de consultoria Comunidea, curador do site varejo consciente, conselheiro Diretor da Rede Filantropia e fundador da Aliança Palhaços Pelo Mundo. www.robertoavagnani.com.br
Experiencia vivida e dividida. Parte 3
Quando – 3 a 11 de agosto de 2018.
Onde – País – Peru / Província de Loreto / Cidade – Iquitos / Bairro – Belén / Selva Amazônica.
Depois de ter contado um pouco do lugar onde fiquei este tempo agora continuo a falar das experiencias.
Depois de começarmos a trabalhar, logo nos primeiros dias, pude sentir a força do palhaço, mesmo sem estar com meu personagem oficial, (faltou um pouco de comunicação mais assertiva logo após minha inscrição no festival falando sobre o que deveríamos levar), criei alguns personagens com o que tinha e com o que acabei comprando para compor e dar conta as trocas de roupa por causa do calor, alguns não se importavam muito com isso, mas eu tinha que trocar de roupa 2 ou 3 vezes por dia, pois tenho uma intensa transpiração e em Iquitos foi dobrado ou triplicado, sei que era muita transpiração, há ponto de nos dois primeiros dias, ter os sintomas de desidratação, mas como no grupo tinha médicos, não tive maiores problemas.
Superado os pequenos desafios, começamos os trabalhos e algumas novas experiencias, utilizar o personagem ou melhor a figura do palhaço para atuação e intervenção na comunidade, visitando inicialmente uma casa onde prepararíamos a Humicha (arvore de celebração, tipo nossa arvore de natal) e ver como as pessoas nos recebem bem, gostam de nossa visita, pedem por ela e sentem-se alegres com isso e comemoram.
A conversa flui como se fossemos amigos há tempos, contam felizes suas adversidades e desafios, como os tem, mas em geral não reclamam.
Os filhos a volta, brincam com pequenos animais como gatos e cachorros e muitos brinquedos improvisados, o que adorei ver, pois na minha infância criava os brinquedos, hoje nossas crianças têm tudo muito automático e brinquedos cada vez mais tecnológicos, na minha visão falta um pouco da criatividade que vi ali. Poucas crianças com celular, que alegria.
Outro atendimento que me cativou foi a escuta ativa, o que eles chamam de Atendimento de Saúde Mental, onde nós palhaços (sem o nariz) sentamos e atendemos pessoas da comunidade com nossa escuta real, elas sentam a nossa frente e perguntamos o que elas querem nos contar e elas começam a falar, chorar, contam tudo, a violência doméstica, o buling na escola, os problemas em arrumar dinheiro, o problema para cuidar e criar os filhos, uau, como tem desafios e como somos felizes em nossas vidas por mais simples que possam ser.
Nos deparamos com problemas sérios de alcoolemia, drogas, violência, etc. Temos que nos restringir a ouvir e dar pequenos conselhos de tomada de decisão, não podemos indicar nada e não podemos agir pelas pessoas, muito menos tentar fazer um tipo de atendimento que por não sermos técnicos não nos permitimos, mas fazemos o que podemos, ouvimos, abraçamos e damos uma palavra amiga e ao final um amuleto de gratidão por ter compartilhado sua vida conosco, por ser um povo muito católico, damos um cordão com a medalha de nossa senhora de Guadalupe, por ser muito cultuada no país, sem o simbolismo religioso que ela carrega, mas uma pequena lembrança de nossa conversa, uma ancora para aqueles momentos de falta de fé e de entusiasmo ela possa se lembrar que ainda existem pessoas que a querem bem no mundo. Ao final de nossa jornada também ganhamos uma medalha e hoje a tenho com alegria.
A dança nos integra muito à comunidade, utilizamos da Murga como nossa integradora. Uma dança tradicional da Argentina e Uruguai, levada à Iquitos pelos festivais, se tornou um grande atrativo para adultos, crianças e jovens dançarem juntos e nós palhaços também, é uma dança forte e exaustiva, mas muito aglutinadora.
Com os pequenos, atividades de canto e desenhos, para contar um pouco de suas vidas através de estímulos visuais. E por falar em visual, duas ações noturnas utilizamos do visual, uma cessão de cinema com filmes de curta duração do Festival de Cinema de Lima e um festival de música, proporcionado pelos palhaços músicos do grupo. Eram muitos e com vários instrumentos, desde percussão à metais. Aproveitando a brisa fresca da noite os locais se divertiram e se informaram, pois, parte dos vídeos de curta duração eram educacionais e muito bem feitos e agradáveis de assistir.
Não tem jeito, acho que vai ter a parte 4. Até lá.