Kátia Cristina Vera, 45 anos, é pedagoga e professora de matemática, história e geografia da rede pública de ensino em Embu-Guaçu e até que pudesse receber apoio do Instituto Alpha Lumen, por causa da pandemia, ela e seus alunos enfrentaram muita dificuldade para seguir com as aulas.
Moradora há 16 anos na zona rural da Estrada do Rio Mambú, Paiol Rico, Kátia divide duas turmas do 5º ano com a também professora Marili, que leciona o restante do currículo, português e ciências. No total, as duas são responsáveis pela educação de 44 alunos.
Antes das medidas de isolamento social, para chegar até a Escola Estadual Bairro dos Penteados, cujo nome foi alterado para Professor Levi Pereira Martins, a professora Kátia tinha que andar 10km por uma estrada de terra, porque o ônibus municipal não chega até sua casa.
“Viajar no meio dessa mata, num carro velho, debaixo de chuva ou frio era difícil. Mas lá, na minha humilde escola, eu tinha contato com a comunidade, seus problemas, recebia presentinhos carinhosos dos meus alunos, via as amigas. Esse isolamento forçado só reforça que o Ser Humano nasceu para relacionar-se in loco!”
Por ser uma região na serra do Mar, onde há muitos morros e mata brava, o sinal da internet é fraco e oscilante. Por esse motivo, desde o início do isolamento social, para não deixar seus alunos perderem as matérias, a professora Kátia teve que improvisar.
Com o seu marido, Huytilan Mazahua, xamã e índio mexicano do povo Mazahua com quem é casada há 20 anos, foram abrindo caminho no meio da mata fechada até encontrar um sinal de internet. Fizeram uma pequena clareira e nela armaram uma barraca.
Ela conta que todas as vezes, antes de entrar para começar as aulas remotas, tinha que fazer uma vistoria para não ser surpreendida por uma cobra, aranha ou qualquer outro animal peçonhento.
Quando o Instituto Alpha Lumen ficou sabendo dessa história por uma mãe de um aluno do Projeto Escola que fica em São José dos Campos e que faz parte da própria ONG, imediatamente começou uma força-tarefa de mobilização para ajudar a professora em Embu-Guaçu.
Com o apoio de algumas empresas parceiras do IAL e munidos dos equipamentos necessários, Rodolfo e Célia que fazem parte da ONG, contrataram um técnico especializado e foram ao encontro da Profª. Kátia para solucionar o seu problema de conectividade.
Em poucas horas, a vida dela mudou porque agora, no conforto de sua casa, suas aulas melhoraram significativamente.
“Quando alguém te apoia, significa que você não mais é invisível. Isso me emociona.”
Apesar disso, a própria topografia da região não favorece um sinal tão estável se comparado com quem vive na cidade e que, assim como ela, os alunos também enfrentam esse problema, já que as atividades são feitas pelo aplicativo Whatsaap e enviadas durante toda a semana com orientações individuais.
Abaixo, alguns de seus alunos: Bárbara e Bruno.
“Muitas famílias tem apenas um celular para se conectar e dividi-los entre os filhos. As mães sempre reclamam que não tem memória suficiente para outros tipos de aulas, principalmente se forem do tipo vídeo-aula.”, explica a professora que acompanha o drama diário de seus alunos para avançar nos estudos.
Há 25 anos, ela e seu marido fundaram o Tlatoani que na língua indígena Nauhatl significa “Aqueles que Falam”. Por extensão, a fala iguala os Homens. Sem fins lucrativos, o grupo coordena peças teatrais, atividades musicais, saraus, palestras, escultura, cerâmica e outras manifestações artísticas com o objetivo filosófico de resgate humano.
“Aprendi que Gratidão é evolução. Que tradição não é velharia ultrapassada. Tradição é raiz e ninguém é feliz sem isso. Também dizemos que toda arte é uma forma de resistência!”, finaliza a professora e mulher guerreira, Kátia Cristina Vera.