A produção de filmes brasileira sempre foi alvo de pesadas críticas, tanto por parte do público, como dos especialistas no assunto. De fato, até a Retomada a partir da década de 1990, quando se extinguiu uma inoperante e parasitária Embrafilme, a produção vem se mostrando constante, tecnicamente de boa qualidade e, se comparada com os filmes de apelo pornográfico ou cômico do nebuloso período embrafílmico, de temática bastante variada.
Para relembrar, a Retomada é o período convencionado entre 1992 e 2003 e que compreende mudanças estruturais no cinema brasileiro, rompendo um ciclo de profunda estagnação. A título de comparação, em 1992, o ano derradeiro da crise do cinema nacional, um único longa metragem fora produzido e distribuído nas salas de cinema do Brasil, “A Grande Arte” de Walter Salles. A produção, no idioma inglês, seria responsável por uma porcentagem insignificante da presença de público e em faturamento no cenário nacional. Em 2013, considerado o ano mais produtivo de toda a história do cinema brasileiro, foram produzidos 127 longas metragens.
Pós-retomada e a consolidação do mercado
Depois de 1992, com Itamar Franco na presidência, o governo entrou como o incentivador da produção audiovisual como deveria ter sido desde sempre. A primeira ação efetiva nesse sentido foi a sanção da Lei Federal 8.685/93, conhecida como Lei do Audiovisual, que estabelece regras para deduzir em até 100% do imposto de renda contribuições para a produção de filmes. A lei, que era para vigorar até 2003, representou tamanho salto que teve sua vigência prorrogada por mais de 20 anos a partir de 2001.
Desde então, o cinema no Brasil parece se consolidar e vem apresentando sucessivos saltos em número de produções e público presente nos cinemas. Reflexo direto dos investimentos e incentivos é a própria repercussão dos filmes no exterior. “Cidade de Deus”, de 2002, é o grande exemplo de que, quando há investimento bem direcionado, o sucesso tanto interno quanto externo tem 50% de chances de êxito.
As atuais perspectivas em produção de filmes e vídeos
É interessante observar como as maiores bilheterias da história do cinema brasileiro guardam estrita relação com o panorama social e político de suas épocas. Das dez maiores, metade são de filmes dos Trapalhões, no período entre 1977 e 1981. Sem entrar no mérito artístico, tratam-se de filmes de comédia com temática leve, naquela vibe circense tão peculiar do extinto quarteto que fez sucesso na TV. Talvez esse sucesso seja reflexo de um momento em que o povo buscava ao mesmo tempo figuras carismáticas com as quais se identificar em tempos de uma ditadura militar na curva descendente e uma certa necessidade de ter uma válvula de escape a um momento de transição e incerteza política.
Até então, a maior bilheteria do cinema brasileiro é de “Tropa de Elite 2”, a continuação de um filme que também representou anseios até então inexplorados no cinema, já que segurança nunca foi alvo de nenhum produção nacional até então, até pela inexistente tradição brasileira em filmes de ação. Hoje, essa hegemonia está ameaçada seriamente pela estreia do filme “Os Dez Mandamentos”, prevista para 28 de janeiro e que já arrasta multidões em sua venda antecipada de entradas.
A despeito do cinemão feito por grandes produtoras ligadas às emissoras de TV, surge, ainda, outro nicho de mercado, voltado para produtoras de vídeo no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente, embora elas estejam presentes e atuantes em todo o país. Com a Lei da TV Paga, de 2011, abre-se um mercado para quem deseja investir em produção de filmes, de forma até então inédita no cinema brasileiro. Entre suas disposições, está a delimitação de reprises, o que sem dúvida estimula a produção de novos conteúdos e faz a engrenagem para as pequenas produtoras girar.