A arte em sua expressão universal surge de um “oceano de grandes possibilidades”. É o que diz Estas Tonne, em uma entrevista inédita para os brasileiros. Em tempos em que a tecnologia e a ciência avançam rapidamente, o artista desde 2002, está envolvido com vários tipos de improvisações no teatro, musicais, cinema e circo, e busca inspiração no “som do silêncio” que, para muitos, tem o efeito de uma experiência transcendental.
Publicado no dia 11 de fevereiro na Physical Review Letters, o artigo Observation of Gravitational Waves from a Binary Black Hole Merger, foi recebido com forte impacto pela comunidade científica e órgãos de comunicação em todo o mundo. Isso porque o documento confirma a existência de ondas gravitacionais previstas há mais de cem anos por Albert Einstein com a Lei Geral da Relatividade.
A recente descoberta abriu novas possibilidades para a ciência comprovando a existência do Som do Universo que teria sido produzido por ondas gravitacionais atribuídas a eventos cósmicos de grandes magnitudes, como a explosão de uma supernova ou mesmo o choque entre dois buracos-negros. Embora o maior desafio dos cientistas continue sendo desvendar os segredos da energia escura, a pesquisa acende ainda mais teorias como o deslocamento do espaço e tempo entre dimensões opostas.
O que se sabe até agora, é que a energia escura está acelerando a expansão do universo e que a totalidade das coisas, quando em seu estado harmônico, representa a energia do cosmos. Neste sentido, dentre as forças da natureza, a gravitacional é, sem dúvida, a mais intrigante. Os elementos invisíveis que estão presentes no universo podem alcançar vibrações de tal modo que agora os cientistas conseguem estudá-lo de um novo jeito.
Se os avanços astrofísicos da mecânica quântica que buscam desvendar a Teoria de Tudo ou mesmo ideias até então encaradas como ficção sobre viagem no tempo vão acontecer, isso não se sabe. Se num futuro não tão distante assim poderemos viajar pelo espaço por meio de vibrações eletromagnéticas, menos ainda.
O que se pode afirmar é que entre nós há aqueles responsáveis por, no mínimo, dar uma pista do que seria viajar pelo espaço e tempo através da experiência sonora reproduzida pela pura e simples manifestação artística.
Em uma entrevista inédita no Brasil, publicada na rede de Jornalismo Colaborativo, indicada pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, o músico Estas Tonne, que irá se apresentar em São Paulo no Festival Matinal WAKE SP, no dia 15 de março e no MASP, dia 22 (20h), revela com exclusividade como é o seu processo criativo para ajudar as pessoas em desenvolver um sentido crítico, analítico e relativamente atento ao ambiente sônico que nos rodeia. A partir do conceito da ecologia acústica ou paisagem sonora, sua particular abordagem de criar música engloba ao mesmo tempo, tanto a fundação, quanto a liberdade do Soundscape, permitindo que durante a composição, a variação e tema musical se apresentem de forma variada, em vez de repetição durante a melodia.
JC – Quais foram os países que você tocou ou simplesmente encontrou inspiração e motivação para a arte? Você já visitou o nosso país ou algum outro da América Latina?
ET – Obrigado por perguntar, mas seria bastante complexo lembrar de todas as terras visitadas que chamamos de “países”. E não é sobre isso. O mistério de uma alma humana e a vastidão da mesma, vai muito além da compreensão que cada indivíduo tem com informação de todos os tipos de fontes e que “depois” é expressado através deste ou daquela filtro individual. Para simplificar esta resposta: eu vejo a vida como uma arte e arte como a vida em que cada um de nós consegue expressar este mistério da alma em cada momento que nos é concebido. Viajei profundamente no México e brevemente no Peru, mas a Terra chamada Brasil tem um lugar muito especial no meu coração, embora nessa jornada de vida ainda não me levou até as suas margens. Mas todos os anos eu me vejo pensando: “Logo, eu estará no meu caminho” o que me permite ter esperança que isso vai acontecer eventualmente… Todas as coisas na vida surgem no momento certo.
JC – Em sua música, podemos sentir a influência do flamenco com a melodia cigana e uma variedade de outros sons de estilos característicos. A que você atribui toda essa facilidade de tocar e compor novas grandes obras?
ET – Eu não componho música, eu toco… ou melhor dizendo “eu vivo”. E de tempos em tempos quando a mudança acontece, eu mudo como tudo se modifica. Certamente há um elemento “cigano” em minha auto-expressão. E o que mais poderia ser quando um homem vive na estrada? Mas a medida que estou envolvido, os elementos que estão inseridos na expressão uma alma que não tem referência, mas consciência própria.
JC – Além da música, você está envolvido com algum trabalho no cinema ou teatro? Como essa experiência tem sido para você? Você poderia comentar um pouco do seu trabalho ou até mesmo projetos nessas áreas?
ET – A minha ideia original ou melhor “um chamado” começou a partir de uma filmagem. Durante esse período de vida que eu não tinha dinheiro para pagar o curso de cinema, nunca deixei de ter uma ideia focada em particular de o que exatamente eu queria fazer. Quando estive escrevendo e atuando sobre alguns aspectos, eu gostei tremendamente e ainda continuo escrevendo alguns pensamentos, capturando as cenas, diálogos, monólogos e também mantendo um diário com a intenção de fazer um filme um dia ou ao menos escrever um livro. Ter conhecido o fotógrafo e cineasta Geri Dagys, da Lituânia, trouxe belas ideias de filmagem que estão em um processo de “cozimento”. E quando a guitarra voltou para a minha vida depois de ficar 10 anos sem tocá-la, procurei focar totalmente nessa expressão. Embora eu goste de bons filmes, é impossível para mim atuar por um script… Isso é o que eu já tinha explorado na música. Assim que eu tentei construir qualquer performance, perdeu-se “sua majestade” tornando-se uma experiência muito estressante. A confiança é essencial em todas as formas de arte, especialmente quando estamos co-criando com os outros. Como sabemos, um grupo de pessoas, quando trabalha em uma determinada criação tem que coordenar os seus talentos, prazos e tudo o mais. Chamo isso de “estrutura”. Mesmo essa estrutura que pode ser a música, cinema, TV ou qualquer outra apresentação, quando é “aprendida” e entregue, não se tem tanta verdade nela. Poderia ser grande, poderia ser realmente um desempenho magistral entregue, e, no entanto… é apenas uma construção… não é realmente minha praia… Na Índia, há alguns anos, um grupo de artistas internacionais reuni-se com uma ideia de um musical, que foi chamado de “The Colours of White”. Fizemos a criação de um script (a estrutura) e cada um de nós trouxe sua melhor forma de arte para essa sopa criativa, um improviso: poesia, design, dança, malabarismo, performances de fogo e música como trilha sonora constante, como um conto de fadas com colagem de poemas das peças. Eu fiz incontáveis performances onde a estrutura se encontra com a Graça desconhecida e suas duas qualidades que são necessárias: uma estrutura e uma improvisação. Quando a genialidade consegue expressar o Grande Mistério por meio de um ser humano, isso traz vida para dentro de si.. e é verdade…
Quando questionado sobre sua origem, em um primeiro momento Estas Tonne diz apenas que nasceu durante a primavera quando aterrissou na URSS, e que atualmente é um território chamado Ucrânia, embora nunca tenha vivido lá. “De um ponto de vista de nacionalidade, tenho algumas, embora, de fato nenhuma. Como definições apenas criam separação, escolho não participar dessas discussões. Estamos todos neste planeta, neste exato momento e então vamos encarar isso como uma experiência terráquea que na verdade é extraterrestre… porque quem sabe quais são as galáxias de onde vieram nossas almas?”
Fonte: Jornalismo Colaborativo
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