danielcintraO Senadinho, apelido carinhoso incorporado ao nome do Restaurante Cintra, perde hoje o seu anfitrião e exímio intérprete das mais lindas canções da boemia, na Serra da Mantiqueira. Afastado dos roteiros badalados e daquela mesma aparência simples, quando lá dentro, bastavam alguns minutos no ambiente para ser revelado a face deste lugar que há mais de 50 anos, reuniu um grupo de amigos que invocavam pérolas da música popular noite adentro.

À parte da indústria cultural, Daniel Cintra teve um papel importante na manutenção das músicas que fazem parte da trilha sonora de muitas pessoas em momentos importantes e que, quando cantadas, relembravam particularidades de suas vidas. Esse talvez seja o principal motivo para que o grupo de músicos, formado por senhores de diversas atividades comerciais, se reunissem há tanto tempo para cantar e cativar vários admiradores e manter em dia os velhos e bons tempos.

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Quem chegava em meio a uma canção puxada pela voz do veterano do grupo, Daniel Cintra,  proprietário do restaurante, pode pensar que estaria ouvindo Nelson Gonçalves, em virtude do timbre de voz muito parecido.

Daniel contava que o apelido Senadinho surgiu em razão de conversas sobre política no antigo estabelecimento: “Ele nasceu por causa das discussões políticas que eram realizadas no antigo restaurante, que culminaram na eleição de um dos integrantes do grupo para a prefeitura de Campos do Jordão, e o nome acabou pegando.”

Outro integrante do grupo que animava as noites foi o Dom, famoso por conseguir imitar sons de instrumentos de sopro usando apenas a boca. Ele conseguia também tirar sons de cuíca nas cordas do violão e muitos outros mais.

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O falecimento de Daniel Cintra, traz à tona a lembrança e memória de personagens não menos importantes como o José Antônio, o Bruno, o Cláudio, o Condinho e tantos outros que, sem eles, não haveria samba.

O que, justamente, atraía e encantava este local era o espírito de amizade e de união que encontramos na realidade transportada das páginas de todos os livros que tratam da boemia.

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Teria cem por cento de razão um José Carlos de Oliveira ou mesmo João Ubaldo Ribeiro — ainda que se confesse atualmente apenas ex-boêmio —, ao afirmar que não há irmandade maior e muito menos amizade melhor do que aquela que é ditada e celebrada à mesa de um bar, cotovelos fincados à mesa, um copo e uma garrafa à frente.

Com certeza não há apenas um Senadinho por todo este Brasil. Outros há, em outras cidades, com outros componentes, até mesmo com muito mais “luxo e riqueza”. Porém, a meta por todos eles alcançada, há de ser a mesma: o resgate e continuidade das músicas populares de outrora — ainda que esse outrora não seja tão longínquo assim — na memória de todos que, de alguma maneira, ainda têm a capacidade de sentir e apreciar a boa poesia que está por trás das composições e interpretações de gênios como Ary Barroso, Sílvio Caldas, Nelson Gonçalves, Adoniran Barbosa e todos os outros que formaram e que ainda formam a nossa Velha Guarda. Uma verdadeira guarda de honra da poesia e da música brasileira que, certamente, estão fazendo música com nosso amigo, Daniel Cintra.

Fonte: cjordao.com.br