Uma querida amiga, ao comentar sobre as conclusões de uma matemática chamada Margaret Hunter, perguntou-me se Darwin concordaria com tal estudo. Trata-se de uma quantificação estatística de possibilidades de acerto, caso Moisés tivesse tentado adivinhar a sequência dos fatos na criação do universo. A chance de acerto seria de 1 em 479 milhões!! Mas Moisés não tentou adivinhar: ele sabia o que dizia e principalmente COMO dizia, levando-se em consideração o nível cultural da humanidade naquela época.

 Não sei qual seria a opinião de Charles Darwin sobre essa conclusão, mas acredito que nós concordaríamos no fato de que a cada dia, a ciência e a religião se afastam mais e mais de um consenso. Pelo menos as religiões que não dão abertura a FATOS CIENTIFICAMENTE COMPROVADOS, e sim somente à uma fé cega, baseada única e exclusivamente no conjunto de textos também conhecidos como bíblia.

 Segundo a narração descrita no livro de Gênesis, cuja autoria é atribuída a Moisés, “No princípio criou Deus os céus e a Terra.” Analisando criticamente a afirmação, exemplifico aqui (muito pobremente) com a criação de uma simples caneta esferográfica. Um objeto “comum”, um conjunto de materiais destinado a grafar. Quanta engenharia, projetos, pessoal e técnicas foram utilizadas para chegar-se à esse produto final? Muitas. Mas a conclusão mais importante é: uma simples caneta precisou de mentes prodigiosas, materiais e condições próprias de fabricação até que chegasse às mãos desse ignorante crítico que vos escreve. Imaginem só a complexidade da inteligência necessária para criar até mesmo o que nós conhecemos como inteligência!! Nosso cérebro é o “computador” mais perfeito e complexo que temos conhecimento, com todas as suas sinapses e áreas ainda a serem descobertas. Toda a natureza, incluindo o nosso planeta e os demais astros conhecidos e desconhecidos, tiveram, NECESSARIAMENTE um projetista. Nós não poderíamos ser fruto do acaso e a quantidade infinita de galáxias que se tem notícia não estariam por aí sem um propósito… Não acreditar em um Criador é muita falta de raciocínio lógico. Ou simples rebeldia sem causa.

 Ainda citando o início do livro de Gênesis, “…e a Terra era sem forma e vazia…”. Dadas as condições de pressão e temperatura, somente um aglomerado de gases e minerais incandescentes reviravam-se no decorrer dos milênios seguintes até que houvesse uma atmosfera e uma estrutura com mínimas condições de abrigar os primeiros organismos que migraram de outro lugar, obviamente, pois a partir do mineral não pode surgir um vegetal…

 Segundo dados científicos, o universo tem a idade aproximada de 14 bilhões de anos (http://super.abril.com.br/ciencia/qual-idade-universo-447004.shtml); segundo relato bíblico, Deus criou o universo em 7 dias. Concluímos, com uma operação matemática simplicíssima, que cada dia citado na narração de Moisés tem 2 bilhões de anos de duração. Mas como ele explicaria isso ao povo da época? Se há ainda hoje analfabetos funcionais (sabem ler mas não conseguem raciocinar sobre o conteúdo lido ou não conseguem associar o conteúdo a outros conhecimentos previamente adquiridos), imaginem há mais de 4.000 anos… Apesar de a autoria do Pentateuco (cinco primeiros livros da bíblia) ainda ser contestada, seja quem for que tenha escrito estava instruído pelo Grande Arquiteto a dar as ADEQUADAS explicações sobre o universo.

 Concordo com a estatística da matemática Margaret no que diz respeito ao caminhar paralelamente preciso, tanto na concepção da ciência quanto do Gênesis, da sequência de eventos (primeiro os minerais, depois as plantas e em seguida os animais – incluindo o Homem).

 O artigo que gerou essa discussão (http://www.portaldt.com/ciencia-comprova-relatos-moises-criacao-mundo-sao) não menciona a qual universidade ou a qual instituto de pesquisa pertence a matemática Margaret, mas considerando-se que foi publicado em um site protestante e que foi extraído de uma entrevista ao Christian News Network (Notícias do Serviço de Rede Cristão), concluo que há cheiro de partidarismo no ar.

 O livro de Gênesis foi escrito de modo simplório, para melhor entendimento dos contemporâneos da época. O propósito da bíblia é honradíssimo, mas sua factualidade é contestável.

Eduardo Queiroz é paulista de São José do Rio Preto. Fã incondicional do bom e velho rock n’ roll, leciona as línguas inglesa e portuguesa a alunos de todas as idades. É revisor, editor, escritor e colunista semanal do Vale Jornal e outras publicações de Jornalismo Colaborativo do Vale Publicar.

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