Cidades Inteligentes exigem Governos Inteligentes
Uma das ondas tecnológicas do momento é “Cidade Inteligente”, que tem ocupado a mídia especializada e produzido vários congressos e seminários, no Brasil e mundo a fora. Podemos definir uma cidade inteligente como sendo uma área (uma cidade ou uma parte dela) que é monitorada por uma central de controle de onde partem comandos para interferir na dinâmica daquela área (no tráfego, em situações de risco, atendendo emergências, reduzindo criminalidade etc.). Os dados sobre a cidade são coletados por sensores e permitem aos gestores conhecerem detalhes sobre a dinâmica da cidade e assim projetarem ações para melhorar a qualidade de vida e bem-estar da população.
Os investimentos para introduzir sensores e redes de dados em uma cidade, são consideráveis. Instalar câmeras de vídeo, infraestrutura de rede, sensores e atuadores diversos em uma parte da cidade custa caro e precisa trazer benefícios reais para justificar esse investimento.
Os benefícios são, principalmente, em duas dimensões:
- Coleta de dados: os sensores coletam dados sobre a dinâmica da cidade, tais como: volume de tráfego por hora nas diversas vias; intensidade de incidentes de trânsito por localidade; nível de ruído por hora e por local; nível de poluição por hora nos diversos pontos da cidade, etc.
- Atuação imediata na dinâmica da cidade: através do monitoramento em tempo real dos sensores (câmeras de vídeo, microfones, etc.), os responsáveis podem atuar rapidamente para modificar a dinâmica da cidade, mudando o fluxo de trânsito, enviando avisos de enchentes e desmoronamentos eminentes, acionando rapidamente os órgãos de defesa em casos de violência ou de acidentes ambientais, acionar procedimentos de redução de poluição etc.
O volume de dados coletado oferece aos gestores da cidade a possibilidade de elaborar políticas públicas e definir estratégias operacionais para melhorar o dia-a-dia da cidade, todavia, os dados coletados só serão úteis se os gestores públicos forem capazes de fazer análises sobre esses dados de forma científica e objetiva, o que raramente acontece.
A atuação imediata na dinâmica da cidade é um benefício inquestionável, mas precisamos lembrar que a maioria das grandes cidades já conta com monitoramento de transito e de segurança por câmeras de vídeos, controladas pelos Centros Integrados de Segurança Pública. Assim o benefício da inclusão das novas tecnologias só será válido se gerar resultados para a antecipação de problemas e para a definição de estratégias de longo prazo.
Ampliando o escopo dessa análise, podemos afirmar que uma cidade começa a ser inteligente no seu planejamento urbanístico (quando bem feito) e continua inteligente com a observância desse plano durante os anos seguintes. Se os gestores permitirem o crescimento desordenado da cidade e sem alocar recursos no planejamento urbano, a cidade raramente será inteligente, poderá ser uma cidade monitorada, mas pouco inteligente. A tecnologia necessária para colocar um pouco de ordem e gerenciamento sobre o caos é muito grande e, em geral muito cara e de pouco retorno.
A melhoria da qualidade de vida de uma cidade não é dependente de tecnologia, mas pode ser alavancada por ela. O que torna uma cidade agradável para seus moradores, são políticas públicas bem elaboradas, gestão pública responsável, manutenção da sua ordem urbanística e impulso ao desenvolvimento socioeconômico. A tecnologia pode ajudar, coletando dados para apoiar as decisões estratégicas e táticas, mas são precisos governantes capazes de gerenciar essas cidades através desses. A análise dos dados coletados durante um tempo, permite fazer projeções e predições sobre o futuro da cidade, antecipando eventos e planejando ações nas áreas de mobilidade, segurança, defesa civil, economia etc.
Resumindo, os dados coletados podem ajudar os gestores a elaborarem políticas públicas e se anteciparem a eventos urbanos de impacto para os cidadãos, mas esses gestores precisam estar preparados para usar, de forma efetiva esse grande volume de dados. Em uma frase, uma cidade, por mais sensores que tenha, não consegue ser inteligente se os governantes continuarem despreparados para essa tecnologia.
Cidades Inteligentes exigem Governos Inteligentes, por Paulo Foina – Professor, pesquisador e empresário na área de tecnologia. Consultor em gestão de empresas de base tecnológica e de inovação.
Fonte: Jornalismo Colaborativo