Anouk Vasconcelos Rosa vive em Santo Antônio do Pinhal, na subida da Serra da Mantiqueira, com o marido, as quatro filhas e os dois restaurantes em que ela é a chef: o Sta. Truta, de um lado da estrada, e o Donna Pinha, do lado oposto, no alto de um parque cercado de jardins temáticos e com uma vista deslumbrante das montanhas. Ela ainda se dedica a uma fábrica de peças em couro na vizinha Campos do Jordão. Parece muito para uma pessoa delicada como ela, mas quem a vê transbordando de energia entende logo como, além de tudo isso, ela ainda decidiu criar, há oito anos, o Festival da Alcachofra de Santo Antônio do Pinhal.
Anouk Rosa, chef do restaurante Donna Pinha (Foto: Divulgação)
Por conhecer outros festivais da mesma iguaria, em São Roque e Piedade, imaginei que a atração fosse comandada pelos produtores de alcachofra, interessados em divulgar as maravilhas dessa flor comestível que faz muito bem para a saúde (especialmente o fígado) e é usada em receitas que vão das saladas às massas, tortas, pizzas e risotos. No caminho de Ibiúna, é comum ver caminhões estacionados na beira da estrada com alcachofras expostas para venda, tanto in natura quanto em conserva. Mas não foi nada disso que eu encontrei em Santo Antônio do Pinhal. Ali, o festival se limita à determinação de Anouk. Apenas ela, em seus dois restaurantes, faz questão de aproveitar o ingrediente no auge da safra. Ninguém mais. É possível visitar um produtor? Sim, mas o passeio nem tem tanta graça se comparado às outras possibilidades da região, de ótimos ceramistas a uma cervejaria artesanal, passando pelo alambique artesanal A Bodega, que oferece dezenas de opções da bebida, a Casa da Mata, onde um jovem casal cultiva shitake, a fazenda Renópolis, com seus 70 tipos de chás orgânicos, além de bolos, tortas e muito mais – sem contar as cachoeiras, o Pico Agudo (com rampa para saltar de asa delta e parapente) e a vista da Pedra da Baú…
E mesmo assim, conhecer os restaurantes de Anouk e suas receitas é, sem exagero, o melhor pretexto para visitar Santo Antônio do Pinhal até 30 de outubro, último dia do festival. De tudo que só entra no cardápio dos dois restaurantes na alta estação, vale começar pela entrada mais criativa: a casquinha de truta sobre fundo de alcachofra. Mas o que salta aos olhos (e também ao paladar) é o fetuccine com shitake, cogumelos Paris e porto belo, shimeji branco e negro, servido na flor de alcachofra. Além da bela apresentação, é daqueles que deixa o melhor para o final: depois de comer a massa, chega-se às pétalas e ao fundo da alcachofra – curtido em todo o tempero que decanta do refogado de cogumelos. Palmas para a chef, que além de cuidar de todos os detalhes ainda mantém no Donna Pinha um pianista capaz de emendar Cole Porter com Beatles sem desperdiçar uma nota. Se você conseguir, guarde espaço para a sobremesa: há sorvetes artesanais de chocolate belga e de frutas vermelhas.
FONTE: Revista Época São Paulo