“Lutar sempre, desistir jamais. O lugar da mulher é onde ela quiser.”
É com essa frase que se define o espírito das Galácticas Futebol Clube, uma equipe formada por mulheres da periferia de Betim (MG), que fizeram do futebol um instrumento de empoderamento, transformação e esperança.
Fundado oficialmente em 2019, o clube nasceu de um encontro informal de amigas e se tornou uma potência simbólica e social no futebol feminino amador do estado.
De pelada à potência comunitária
Tudo começou com um simples “rachão” entre amigas que, após as aulas da faculdade, se encontravam à noite para jogar bola em uma quadra no centro de Betim.
A dificuldade de deslocamento fez nascer o desejo de trazer o jogo para dentro da própria comunidade. Foi então que Sueli Aparecida, uma das participantes e atual presidente do clube, buscou apoio junto ao Instituto Ramacrisna para viabilizar um local de treino no bairro Santo Afonso/Marimba.
Com uma bola, força de vontade e nenhuma estrutura, o que era uma brincadeira se transformou em projeto de acolhimento para mulheres com depressão, autoestima fragilizada e poucas perspectivas.
“Não era sobre futebol, era sobre se sentir viva”, relembra Sueli, que hoje, aos 47 anos, ainda atua em campo com orgulho.
Metodologia, respeito e transformação do Galácticas
O treinador Marciel Oliveira, mais conhecido como Macigou, assumiu a missão de profissionalizar a brincadeira. Ex-jogador com passagens pela Europa e experiência como técnico, ele trouxe sua metodologia de ensino, organização tática e, acima de tudo, respeito às histórias das atletas.
“Mostrei a elas que podiam sim ser atletas. Que o lugar da mulher não é só onde a sociedade permite, mas onde ela quiser ocupar com competência e garra”, destaca Marciel. O apoio do núcleo familiar foi conquistado com o tempo, inclusive de maridos que inicialmente se opunham e depois se tornaram entusiastas.

200 histórias, uma só missão
Seis anos depois, mais de 200 mulheres passaram pelo projeto. Algumas chegaram com medo, outras com traumas, muitas com o desejo de apenas esquecer por alguns minutos a rotina dura de casa. O futebol, como ferramenta, devolveu autoestima, disciplina e propósito.
Uma das histórias mais emblemáticas é a de Raiara, que foi dispensada da base do Atlético Mineiro por mensagem de celular e, acolhida pelo projeto, reencontrou forças para continuar. “Ela chorava no shopping, desamparada. Eu a convidei para treinar com a gente. Um ano depois, estava assinando com o Internacional. Hoje, está no profissional do Atlético”, relata Marciel, emocionado.


Protagonismo em campo e a 1ª Copa Vagalume
Após quatro anos de preparação, o time estreou em sua primeira competição: a Copa Vagalume, em Betim. Contra todas as expectativas, venceram.
“Fomos com humildade e vontade. Cada jogo era uma superação, e saímos campeãs”, lembra Sueli.
O feito selou o projeto como referência na região. Desde então, o Galácticas passou a ser respeitado como exemplo de empoderamento e de resultado esportivo. As atletas, que antes tinham vergonha de vestir chuteira, hoje sonham com estádios, bolsas de estudo e seleções.
Festival das Galácticas: futebol e economia local
Um dos marcos do clube é o Festival das Galácticas, evento que reúne até 1.400 torcedores em dois dias de competição intensa.
O festival promove duelos entre equipes femininas e masculinas, categorias de base e times amadores.
Além de troféus e reconhecimento, ele impulsiona a economia local com venda de alimentos, bebidas e artigos por ambulantes e comerciantes da comunidade.
“É mais que um festival. É celebração, visibilidade e renda para quem mais precisa”, ressalta Sueli.
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Parcerias que transformam
A equipe mantém parcerias com o CRAM (Centro de Referência de Atendimento à Mulher), Delegacia da Mulher e uma psicóloga voluntária. Embora não haja registros oficiais de violência no projeto, a atuação preventiva é um pilar. A psicóloga Jéssica Silva realiza atendimentos pontuais e orienta intervenções sempre que necessário.
Apesar de todo o desafio, Sueli – Presidente do Galácticas FC reconhece e declara orgulhosa o trabalho e entrega de seus Treinadores e Técnicos. “O Anderson Prado é treinador de goleiras e que também tem um papel fundamental para atletas dando destaque e desenvolvendo a goleira Isabella Lara que em grandes competições desempenha seu papel de forma extraordinária e alcançou o reconhecimento como uma melhores jogadoras em campo. Todas as atletas contribuem para os resultados em campo, somos uma equipe e lutamos juntos por cada conquista.”
Do ponto de vista financeiro, o projeto é sustentado por eventos, doações e voluntariado. A Loja do Treinador, por exemplo, é uma das instituições que apostam na causa.
“Eles acreditaram na gente. Nos deram materiais de primeira, quadros táticos, apoio técnico. Isso faz toda a diferença”, diz Marciel.
Sonhos internacionais e expansão do modelo
Recentemente, duas atletas do Galácticas participaram do programa internacional “Sports Visitor Program”, visitando a Califórnia com apoio da Embaixada dos EUA. A experiência reforçou a crença de que o modelo pode ser replicado em outras comunidades do Brasil.
“Nós somos prova viva de que futebol transforma. E estamos prontos para compartilhar essa experiência com quem quiser sonhar junto”, conclui Sueli, com olhos marejados e sorriso firme.
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A mensagem das Galácticas
A história do Galácticas ultrapassa qualquer narrativa esportiva porque se tornou um chamado para a ação. É sobre mulheres que resistem, que sonham, que jogam. E sobre como, com apoio, técnica e amor, o futebol pode mudar destinos.
A revolução é feminina. E ela já começou, em Betim.


Fonte: Jornalismo Colaborativo / Loja do Treinador. Fotos: Arquivo / Divulgação.